LIMITES

O tema sobre limites é amplo e complexo. Não tenho a menor pretensão de explorá-lo em profundidade, apenas abordar alguns pontos que sirvam para uma reflexão ou até mesmo assunto de conversa entre os pais.

Limites talvez sejam a maior constante nas nossas vidas. Nascemos quando um limite de espaço já nos deixa bem apertadinhos na barriga de nossas mães! Crescemos em uma sociedade que, tendo evoluído da bárbarie e combinado viver de forma harmônica, tem regras e obrigações a serem cumpridas, nos impedindo de fazer simplesmente o que queremos, quando queremos. Não só convivemos com esses limites sociais, mas, também, com aqueles relacionados à nossa condição humana. Nosso corpo adoece sem que isso seja do nosso desejo, nos impondo limites às atividades corriqueiras. Mesmo sem adoecer, temos limites do que conseguimos fazer com o corpo em termos de flexibilidade e resistência. Se formos além dos nossos limites sofreremos consequências. Não respiramos debaixo d´água, nem voamos. Limites, por toda parte!

Apesar dos limites fazerem parte da vida cotidiana, em qualquer nível que olhemos, precisam ser ensinados às crianças. Alguns limites são ensinados pela própria vivência e prática da criança. Pequenos “acidentes” ensinam aos nossos filhos. No entanto, não podemos deixar que apenas “acidentes” ensinem. Mesmo porque, muitos destes podem colocar em risco a vida de nossos filhos. Ninguém tem problema algum em colocar limites, de forma enérgica e objetiva, quando há algum risco para a saúde imediata da criança. Tiramos nossos filhos de perto da janela, independentemente do choro que possa fazer. Impedimos as crianças pequenas de pular na piscina sem bóias, ignorando seu desejo entrar sem bóia. Esses limites são fáceis de serem colocados. Mais difícil são os limites sutis.

Os limites sutis não são a mesma coisa que ser econômico com os elogios. Colocar limites não é sinônimo de reduzir a auto estima dos filhos. Podemos e devemos colocar limites e, elogiar em todas as ocasiões que couber um elogio (não só quando houver um feito “extraordinário”). A pergunta é: se todos nós sabemos que limites são importantes, por quê é difícil colocá-los? Talvez a razão mais óbvia (e menos elaborada) seja a de que todos nós gostamos de ser gostados e as chances de alguém gostar de nós, quando nos opomos a um desejo desta pessoa, diminui. Portanto, é normal e natural que fiquemos com o coração apertado ao colocarmos limites para nossos filhos. Esse aperto só piora quando a criança ou o adolescente são capazes de expressar, em palavras, sua ira e rancor, pronunciando uma frase que é como um punhal no peito dos pais: ” eu não gosto de você”, dito de diversas formas. É preciso ter um amor tranquilo pelos filhos para podermos ouvir  e acolher essa ira, que é passageira (garanto!) e seguir em frente, mantendo, com calma, o limite estabelecido. Acolher a ira não significa compactuar com o comportamento. Significa que não vamos responder na mesma moeda, com ira, mas podemos e devemos dizer que esse comportamento decepciona ou entristece. E é fundamental que, passada a ira da criança e do adolescente e esse faça um movimento de “desculpas”, ainda que disfarçado, estejamos prontos para aceitá-lo. Não raro, nossa raiva fica contida e, na hora em que nossos filhos desejam pedir desculpas, dizemos algo como: você foi feio e agora vem pedir desculpas? Estou chateado com você agora. Depois falamos. Ainda que seja uma resposta calma, dita em voz serena, implica em uma sentimento de raiva que se expressa de forma “vingativa” e não “produtiva”.

Limites são fundamentais para a proteção da saúde da criança, incluindo todos os cuidados com a segurança no sentido amplo (vacinas, dormir de barriga para cima, usar capacete, alimentação saudável, cadeirinha no carro, prevenir acidentes em casa etc.) mas também para a formação de uma personalidade que consiga conviver de forma harmônica e feliz, em grupo. De certa forma, crianças e adolescentes pedem que coloquemos limites, ainda que resistam a estes. Adolescentes que não recebem limites claros em casa, vão procurar fora, em situações de muito maior risco, como a velocidade com que dirigem um carro ou o uso de drogas. Adultos sem limites se tornam insuportáveis no convívio, se considerando o centro do mundo, desrespeitando outros, passando por cima de regras ou convenções de acordo com sua conveniência, incapazes de um relacionamento generoso. São pessoas que não sabem tolerar frustrações e estas (frustrações) fazem parte de nossas vidas. Por mais que não gostemos de sermos frustrados, a vida é assim. Portanto,ensinar limites é um ato de amor para a vida inteira de nossos filhos. Temos que trocar aquele desejo imediato de sermos amados e idolatrados pela certeza de que seremos lembrados, muito tempo depois de não estarmos aqui, por termos deixado um legado de saber viver bem e ser um adulto feliz.

Limites são difíceis de serem ensinados, não só porque queremos “ficar bem na fita” no curto prazo, com nossos filhos, mas também porque a sociedade em que vivemos nos dá dois tipos de exemplos negativos. O primeiro é com relação ao valor moral das leis e regras. Onde tudo é relativo e sempre há alguém burlando a lei, seja parando o carro em fila dupla (só um minutinho!), seja fechando contratos mediante propina, fica mais difícil se ensinar o valor do limite legal. O segundo é que em uma sociedade onde o consumo passou a ser sinônimo (falso) de felicidade, como não comprar e comprar cada vez mais, como manifestação de nosso carinho? A sociedade de consumo, por definição, não deseja limites. Vive exatamente da sensação criada de que sempre pode haver algo melhor ou mais moderno e que dependemos disso para sermos felizes. Nesse cenário, ensinar limites é bem mais difícil. Talvez, por ser mais difícil e complexo, muito mais necessário!

Como tudo tem limite, meu espaço para um post acabou, bem como a paciência de vocês, para ler! Espero que os tenha  sensibilizado para pensarem um pouco nos benefícios, de longo prazo, que os limites podem produzir nos filhos: uma vida mais integrada e feliz.

Como sempre, seus comentários serão muito benvindos.

 

13 comentários em “LIMITES”

  1. Olá Dr. Cooper,

    Fico feliz em poder contribuir, aliás sou daquelas mães “chatas” participativas, adoro me envolver e experimentar e descobrir e desenvolver junto. Crescimento duplo, risadas duplas, curtição dupla.
    Haverá a hora de recuar ? Acho que sim, tem limites né !
    Hoje Manu foi a feira com a vovó. Placar final do passeio: biscoito de polvilho+biscoito de queijo+jujuba+varias frutas+POLVO…POLVO, como assim ??? Pois é, a dona Manuela pediu e a vovó foi lá e comprou.
    Resultado da manhã: gargalhadas e bronca na vovó, TEM QUE TER LIMITE !
    Também julgo importante saber ponderar, claro, porque dizer não para comprar um simples polvo ou mesmo para comprar uns pacotes de biscoito na feira que acontece somente os sábados ?
    Talvez porque hoje o cardápio fosse ser outro ou porque está caro demais ou mesmo porque ninguém gosta de polvo. O não é importante, é a palavra que limita tudo, neste caso um consumo desenfreado de artigos da feira !
    A vida é assim, não se pode tudo, não se tem tudo, um eterna escolha.
    A mamãe Bia teria dito: “que tal esse e não aquele ?”
    E é assim ,acabamos rotuladas como as chatas e como digo sempre, ganhamos mais uma vez o troféu megera do dia. Passo a entender melhor a minha mãe neste momento !!!
    Corajosos aqueles que seguem firmes tentando, mesmo que com o coração partido e muitos protestos, seguir com as regras de colocar limites e dar educação.
    Difícil escrever sobre, achei super interessante a sua abordagem, me fez parar para refletir e reler algumas vezes.
    Obrigado,

    Bia

    1. Dr. Roberto Cooper

      Bia,
      Limites são importantes, sem dúvida alguma. Mas, limites também tem limites! Para essa flexibilização é que existe a Vovó. Ela não precisa colocar limites (exceto em algo muito específico, previamente combinado). Portanto, relaxe e aproveite o polvo!

      1. Graças a Deus existem esses escapes !
        Sem os avós a vida da Manuela seria beeeem mais dura.
        Como uma boa criança e bem esperta ela sabe disso e aproveita a boa compania e deita e rola.
        Alguns limites sem duvida sao preestabelecidos, nao sei se obedecidos mas fica ai a minha função e responsabilidade.
        O arroz com polvo rendeu boas risadas, tim tim e tudo !!!
        Bom domingo.
        Bjs
        Bia

  2. Ola Dr. Cooper,

    Entrei no post limites para pedir uma dica sobre censura.
    Hoje a minha filha pediu para assistir ao filme do Homem Aranha. Ela encontrou o dvd no armario e alguem deve ter dito que era o filme do Homem Aranha.
    Como tinhamos tido a pessima experiencia com os filmes do Nemo, Rei Leao, Toy Story e Mickey e os Tres Mosqueteiros ( todos tem cenas de morte e cenas tristes e ela ODIOU e chorou junto e pediu para desligar), tentamos sugerir outros filmes/desenhos, porem ela queria o filme do Homem Aranha.
    Bem, ao contrario dos demais citados, todos sem censura, ela assistiu ao filme INTEIRINHO, porem com muita aflicao, ela realmente viveu o filme. Claro, o filme do Homem Aranha tem censura de 14 anos e possui cenas “fortes”.
    Fato eh, ela nao quer parar de ver o filme, mesmo ficando tensa e com o coracao palpitando…
    Ai veio a questao…deveria censura-la de ver o filme ?
    O que poderia ser tao ruim para ela ver um filme “alem de sua idade”?
    Teremos pesadelos esta noite 🙁 ????

    Bjs

    Bia

    1. Dr. Roberto Cooper

      Bia,
      Mais uma demonstração de que não existem regras. As recomendações de idades para os filmes, são subjetivas e levam em consideração o senso comum. Evidentemente que uma recomendação com tamanha abrangência não pode dar conta de cada indivíduo ou família. O que me parece razoável é, excluindo as coisas óbvias como cenas de violência, agressividade, pornografia etc. cada família deve avaliar o conteúdo do filme e decidir se o exibe ou não para seus filhos. Em última instância, será a reação da criança que vai determinar se a decisão dos pais foi acertada. Se foi, ótimo. Se não foi, simplesmente não se exibe mais o filme. Agora, nos diga a resposta- tivemos pesadelos durante a noite?

      1. Dr. Cooper,

        Engracado porque nem sempre o obvio eh obvio. Porque sera ???
        Fui tao feliz comprar os filminhos da Disney e Pixar para ela e a reacao foi a pior possivel ao ver o pai do Rei Leao morrer, a mae do Nemo morrer e depois a tristeza do pai do Nemo de ter perdido o filho…NUNCA iria imaginar e ela captou direitinho o espirito do filme, era triste demais !!!
        Hoje ela nao chega nem perto da caixa desses filmes, e quando a gente pergunta algo ela diz um nao quero tao sentido que da ate pena, tadinha ! Chega a ser engracado.
        Bem, o Homem Aranha tem luta ne…sei la…mas ela gostou ! Viveu o filme como os demais mas nao era triste, era um filme de acao, hahahaha.
        Acordou a noite sim, umas 4.30 da manha, aquele horario que a mamae mais gosta de ser acordada, hahahaha. Nao me pareceu assustada tipo pesadelo que acorda suada e meio agitada.
        Ela levantou em silencio, ja com o cobertor numa mao, coelho e chupeta na outra. TRADUCAO: mamae, quero dormir ai com vc e ja trouxe ate as minhas coisas entao nao me mande de volta para a minha cama !
        Como vc diz, a gente tem que curtir e se divertir, foi bonitinho !!!
        Acho que irei investir numa pipoca da proxima vez, assim participo com ela 🙂

        Bjs

        Bia

  3. Limites são importantes demais para a adolescência e, geralmente, se me lembro bem, quando a gente vira um adulto, por mais permissivas que sejamos, levamos eles com a gente sempre. Eu, por enquanto, e acho que devido a eu ter me tornado amiga do Victor, e não somente a genitora dele, jamais preciso explicar muito os meus “nãos”.
    Um bom exemplo disso: hoje entrei em casa depois do trabalho, e ele: “mãe, posso te perguntar uma coisa?”. Claro! “Amanhã o meu amigo Daniel queria que eu fosse à praia com ele e o primo dele que já tem 21 anos, posso?” Eu, com a maior tranquilidade e alma lavada: Não!
    E ele voltou para o jogo dele sem traumas.
    Por isso eu digo à todas as novas mamães: conversem com seus filhos desde a gestação, sejam cúmplices e amigas deles. É importante demais para nós mães, e para eles, os filhos!

    1. Dr. Roberto Cooper

      Edite,
      Ótimo exemplo e sugestão- conversar sempre e não ter medo de colocar os limites. Obrigado por compartilhar conosco.

  4. Dr Roberto. apesar de meus filhos ja estarem todos quase adultos, o mais novo tem 22.ainda senti grande necessidade de entender mais sobre LIMITES.ja que os quatro ainda estao comigo sem o pai que mais precisa de limites do que eles.minha filha faz 24 anos agora no mes de julho,mas me põe a prova todo o tempo possivel. e principalmente os dois ultimos paragrafos me fez reconhecer diversas necessidades de mudança em mim.fico profundamente agradecida por te-lo encontrado aqui.se possivel me indicar algun outro exemplar mais adequado para idade de meus filhos. me ajudará ainda mais .desde ja agradecida

    1. Dr. Roberto Cooper

      Prezada Risete,
      Obrigado por seu comentário. Fico feliz quando o que escrevo faz sentido para outra pessoa. Não sei que leitura lhe recomendar. Mas, já pensou em conversar com um psicólogo para lhe orientar?

  5. Murillo do Carmo

    Olá, achei muito interessante o artigo, e principalmente a sua réplica a Edite: o principal é juntos nos reavaliarmos e sem julgamento evoluirmos todos. Não costumo muito comentar na internet, mas me veio uma coisa que gostaria de questionar: será que não haveria um limite para um ‘tapinha de alerta’? Sabe, imagine que você está com um pedaço de bolo bem gostoso, e alguém vai com a mão e intenção de pegá-lo, mesmo que essa pessoa seja alguém intima, como irmãos, pais, parentes ou amigos, sendo mais até uma brincadeira do que um roubo… digamos, que na hora que vê a mão se aproximando, dá um tapa, olha no olho e fala que ‘oxente, esse é meu’ – dando um sorriso, ou até fazendo cara de brava. Repito o questionamento: não haveria um limite para um toque, tapinha ou peteleco de ‘atenção’? Ou não existe este ‘atenção’, e tudo se enquadra psicologicamente como violência? Grato,

    1. Dr. Roberto Cooper

      Prezado Murillo,
      Seu comentário é muito pertinente. Acredito que diferentes pessoas poderiam lhe dar respostas opostas! Pessoalmente estou convencido de que um tapinha é um tapa. Algo como roubar R$1 e roubar R$1.000. Tudo é roubo. Ou, dito de outra forma, não existe um pouco de honestidade. Algumas poucas coisas são binárias. Violência, para mim, é uma destas. Na cena que descreveu, o tapa pode ser substituído pela contenção da mão, ao vê-la se aproximando. Além do aspecto conceitual sobre violência, uma criança talvez não entendo o que seja um gradiente de força. Se ela recebeu um tapinha, ela pode dar um tapinha no amiguinho da escola também. O que para ela é um tapinha, bem pode ser um tapão! Enfim, como disse, não tenho a resposta correta. Tenho a minha convicção.

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