Bebidas energéticas contém, na sua maioria, cafeína, taurina, l-carnitina, carboidratos, vitaminas e podem incluir ginseng e guaraná, entre outros suplementos. São consumidos com a expectativa de combater a sonolênica, manter o estado de vigília ou alerta, promover aumento na capacidade cognitiva (de raciocínio) e motora, além de melhorar o humor. A cafeína é, em última análise, a principal responsável por estes efeitos. De fato, a cafeína pode produzir vários efeitos benéficos, mas, a questão é em que doses e, mais ainda, para que finalidade? Dependendo da dose, a cafeína pode ter efeitos prejudiciais ou perigosos sobre o corpo humano, tais como: taquicardia, arritmia cardíaca, aumento da pressão arterial, aumento da diurese (urina), insônia, irritabilidade, tremor e ansiedade. Todos esses efeitos, tanto os benéficos, quanto os potencialmente indesejáveis são conhecidos em adultos. Não existem estudos sobre o efeito da cafeína em crianças e adolescentes.
As bebidas energéticas não costumam declarar a quantidade de cafeína que possuem. A variação entre as marcas é enorme, podendo ir de 80mg a mais de 500 mg de cafeína, que corresponde a aproximadamente 14 latas de refrigerante! Além da cafeína, muitos energéticos possuem guaraná na sua fórmula. Guaraná é uma fonte de cafeína (1mg de guaraná =40 mg de cafeína). Quando os energéticos declaram a quantidade de cafeína, não contam com o guaraná, tendo, portanto, mais cafeína do que o declarado.
Os outros ingredientes das bebidas energéticas pouca ou nenhuma função possuem. São muito mais uma forma de apresentar o produto como sendo “completo” ou “complexo”, dando ao mesmo um caráter científico e de credibilidade. Vejamos o exemplo da taurina que é um dos aminoácido mais abundantes no corpo humano, presente na carne, peixes, sem necessidade alguma de suplementação. Os efeitos propagados pelos fabricantes de bebidas energética carecem de fundamentação científica. O mesmo ocorre com os demais ingredientes que são “vendidos” como benéficos, sem comprovação efetiva.
Talvez a pergunta que os pais devam se fazer é por quê os adolescentes consomem bebidas energéticas? Parte dessa resposta deve ser encontrada no investimento em publicidade e propaganda que essa indústria faz, focada, principalmente, no jovem do sexo masculino. Não é por acaso que a imagem dos energéticos está associada a esportes em geral e aos radicais em particular. Um outro aspecto é o de que os adolescentes, não raro, consomem os energéticos com bebidas alcoólicas. Como a cafeína é um estimulante do sistema nervoso central, o adolescente não tem a percepção de embriaguês, ainda que testes tenham comprovado que os reflexos estão tão prejudicados quanto nos que não tomaram uma bebida energética. Esssa falta de percepção de embriaguês leva o adolescente a dois comportamentos de risco: beber mais, porque não se sente embriagado e se expor fisicamente ao dirigir um veículo ou fazer coisas que demandem reflexos e equilíbrio (andar por lugares estreitos, saltar de um lugar para o outro , escalar um muro ou rocha etc.). Mas, o vilão desta história não é o energético e sim a bebida alcoólica. A tolerância para um adolescente consumir bebida alcoólica deveria ser zero. O primeiro argumento, que deveria ser definitivo e não negociável é porque o consumo de bebidas alcoólicas por menores de 18 anos é proibido por lei. Tolerar que bebam, além de colocá-los em risco real, é uma aula de anti-cidadania. Se algo é proibido por lei, é proibido por lei e ponto final!
Mas, além do rigor na imposição de limites, fundamental para adolescentes, há um enorme espaço para se conversar.Não basta comentar sobre os aspectos farmacológicos ou químicos dos energéticos. O vínculo de confiança entre pais e adolescentes é fundamental para a formação de um adulto saudável e feliz.
Não quero criar, com este post, um clima de terror com relação aos energéticos. Não constituem um “inimigo” a ser combatido, um mal moderno etc. O perigo está na bebida alcoólica o seu consumo por parte dos adolescentes.Não devemos temer colocar limites claros e precisos. Enquanto pais organizarem festas de menores de 18 anos onde bebidas alcoólicas são servidas, não faz o menor sentido falar de energéticos.
Sempre fico curioso em saber o que pensam os leitores dos posts. Mandem seus comentários que sempre enriquecem o blog.