Quando escrevo um post , tento me colocar no lugar de alguém que está lendo. Me pergunto sempre sobre que tema deve interessar mais às pessoas? Tento evitar escrever só sobre doenças e, quando o faço, busco uma abordagem que seja clara e objetiva. Acho um horror essa coisa de complicar os assuntos para parecer que “entende muito”. A simplicidade tem uma beleza ímpar e, nem sempre, é fácil transformar em simples um tema complexo.
Mas, invariavelmente, escrevo sobre as crianças ou as relações dos pais com seus filhos. Muito raramente faço um comentário sobre a saúde dos pais. Hoje, pensando no outubro rosa (mês da prevenção do câncer de mama) e no novembro azul (prevenção do câncer de próstata), me perguntei se, como profissional da saúde, eu não deveria fazer um comentário, por menor que fosse, sobre esses dois temas? Aí, me dei conta de que o comentário poderia ser mais amplo, falando sobre a saúde dos pais.
O que queremos para nossos filhos? Para sintetizar , o melhor possível! Quando pensamos nesse melhor, muito provavelmente nos vêm à cabeça coisas como: saúde (sempre!), uma boa educação, que escape dos riscos da nossa época (violência, drogas etc.), que saiba fazer boas escolhas na vida (nem sempre as mesmas que faríamos!) e, finalmente, que seja uma pessoa feliz . Para podermos oferecer o melhor possível para nossos filhos, nos esforçamos, trabalhamos (com o risco de nos ausentarmos mais do que o desejável, deixando o carinho para um segundo plano), damos duro para conquistarmos o que pode ser comprável e fazemos o melhor que conseguimos para dar afeto e fortalecer a sua auto-estima. Mas, quantos de nós pensa que a nossa presença na vida dos nossos filhos talvez seja o “melhor de todos os melhores”, para eles? Quantos de nós, aproveitamos o fato de sermos pais, para cuidarmos um pouco mais de nossa saúde, por amor aos nossos filhos?
Não raro, atendo pais que vivem adiando suas questões de saúde. A falta de tempo, mãe de todas as desculpas, justifica o descuidado que temos com a nossa saúde. Em um mundo super objetivo, quantificado, medido, fortemente influenciado por uma lógica de mercado, será que não há investimento mais rentável do o tempo dedicado à nossa saúde? De que adianta trabalhar todos os dias até tarde, chegar em casa cansado, mal ver os filhos acordados, pensando em poder pagar a boa escola, o plano de saúde e, talvez, umas férias no verão, se nos expomos ao risco de enfartarmos jovens? Vamos supor uma situação fictícia. Enfartamos, morremos e voltamos para perguntar aos nossos filhos se preferiam que estivessemos vivos ou se estavam felizes por poder continuar a estudar na boa escola, fazer o curso de inglês e viajar uma vez por ano, usando o dinheiro do seguro de vida que fizemos? Não tenho a menor dúvida de que nossos filhos sempre prefeririam a nossa presença! Então, por que não aproveitamos para cuidarmos melhor da nossa saúde? Não tenho a resposta. Deixo a pergunta no ar.
Para ajudar a sair do teórico e irmos para a prática, deixarei uma sugestão, divida em cinco grandes capítulos, onde poderemos mudar nossas vidas, contribuindo fortemente para a melhoria da nossa saúde:
- Alimentação– cuidar da alimentação contribui para prevenirmos várias doenças como: hipertensão, enfarte, diabetes tipo 2, vários tipos de câncer, obesidade, doenças das articulações. Comer menos gorduras animais, açúcar refinado e mais legumes, verduras e frutas, é um bom começo. Evitar comida industrializada e preferir os alimentos que não possuem embalagens atraentes e rótulos explicativos. Comida, como nossos avós chamavam: um prato com alimentos de várias cores.
- Exercícios físicos- fazer ao menos 150 minutos de exercício aeróbico e duas sessões de musculação, por semana, ajudam no controle do peso, no fortalecimento da auto estima, reduzindo também a necessidade de medicamentos para hipertensão e diabetes do tipo 2. Além dos benefícios físicos visíveis, os exercícios contribuem para o bem estar emocional das pessoas, dissipando o estresse e dando mais ânimo e vigor para o viver.
- Vida afetiva- estabelecer vínculos afetivos com a família e amigos, tem uma influência direta na saúde das pessoas. A troca de afeto contribui para a redução da ansiedade e colabora na prevenção da depressão. O isolamento (ou blindagem) que uma vida quase que exclusivamente profissional (trabalho-cama-trabalho) produz, cobra um preço caro na saúde emocional e física das pessoas. Pessoas que vivem de forma afetiva, sem pudor de sentir emoções, em geral, são mais felizes.
- Vida “interior”- para uma saúde equilibrada, é preciso um tempo sem fazer nada. Um tempo que pode ser curto, onde os pensamentos ficam mais soltos. É o que os gregos chamavam de ócio. Dessa palavra veio a palavra escola! Os gregos estavam convencidos (e, provavelmente certos) de que uma cabeça cheia não pode pensar coisas novas. Portanto, é preciso “desligar” um pouco, “esvaziar” a cabeça, para podermos ser mais criativos e lúdicos. Sem criatividade a vida fica muito chata, repetitiva, mecânica. Esse momento de ócio pode ser conseguido de várias maneiras: ficar quieto uns minutos, olhar um nascer ou pôr do sol, meditar, fazer yoga, ter alguma religiosidade etc. Não há uma fórmula, roteiro ou regras para se conseguir esses momentos de serenidade. Cada um encontrará o modo que mais lhe agrada.
- Sono- em um mundo onde tempo é dinheiro, dormir vira um desperdício! Pois bem, o sono é uma das atividades humanas mais importantes e, ao mesmo tempo, mais desprezadas. Sono de qualidade produz equilíbrio hormonal, regeneração celular, relaxamento, bom humor, capacidade de concentração e aprendizagem, entre outras coisas. Pensem que, toda vez que “economizarmos” uma hora do nosso sono, estaremos impondo um “custo” à nossa saúde que poderá nos levar à “falência”.
Claro que, no meio destas ações, será importante cuidar da prevenção também através de uma consulta médica periódica, vacinação (adulto também precisa de vacinas!) e alguns exames. Como saímos do outubro rosa, nunca é tarde para que as mulheres façam uma visita ao ginecologista para um exame clínico das mamas. Para os homens, novembro azul nos lembra da importância da prevenção do câncer de próstata, através de uma visita ao urologista para a realização do toque retal.
Acabou ficando um post longo! Para resumir, diria: se queremos o melhor para nossos filhos, devemos cuidar de nossa saúde como um ato de amor por eles. Quanto mais tempo estivermos vivos e saudáveis com eles e menos trabalho dermos, na nossa velhice, melhor será a vida de nossos filhos. Saúde!
8 comentários em “A SAÚDE DOS PAIS”
Caro Dr. Roberto.
Excelente esse seu artigo, gostei tanto que distribui para todos meus amigos, e você escreve muito bem para quem é médico, sinal de muitas e boas leituras, eu que sou ex-médico, hoje advogado, falo com conhecimento de causa.
Parabéns pelo excelente conteúdo, sem contar a beleza filosófica.
Abraços,
Eurico.
Prezado Eurico,
Obrigado por suas palavras gentis e motivadoras. Fico feliz quando o que escrevo faz sentido para alguém. Quanto às boas leituras, acredito que essa seja uma prática que faz bem a todos, sem efeitos colaterais ou, se preferir, já com jurisprudência firmada! Abraços.
Ola Doc! Há quanto tempo!!
Li seu post e me identifiquei plenamente com ele. Como sempre com a escrita fluida e pontual, que esclarece sem fazer rodeios. Parabéns!
Lembro de você me falando…” Humba, se quiser chegar aos 80, tem que mudar alguma coisa…” Você deve se lembrar apenas da Vitória, hoje com 7 anos; agora temos o Bernardo, com 3 – uma espoleta! Tive, e ainda tenho, confesso, dificuldade em gerir os itens 4 e 5. Mesmo em “modo avião” como é difícil desligar! Muitas vezes o pequeno exige um dispêndio de energia que, pela correria cotidiana é difícil recarregar. Além das aulas, que deixam o cérebro antenado e, ao ler ou ver um programa, penso: posso usar isso na minha aula. Ainda não achei a fórmula mágica, mas penso que os momentos, mesmo corridos, que passamos com os pequenos faz bem ao coração.
Um grande e saudoso abraço.
Do amigo e fã,
Humberto Medrado
Humberto,
Que bela surpresa sua presença no blog! Muito obrigado pelas palavras gentis. Sempre motivam. Fico feliz por saber que sua vida anda animada pelos filhos. Espero que, para poder curti-los por muitos e muitos anos, você esteja se cuidando, além de cuidar deles.
Abraço igualmente saudoso.
Olá Dr. Cooper,
Adorei !
Vc tem toda razão !!!
Quando minha filha nasceu eu so pensava nela e nos mil cuidados com um recem nascido e principalmente, com uma grande novidade que veio sem bula e instruções de cuidados.
Logo no primeiro mês tive problemas de saúde, nao graves mas chatos. Foi quando meu obstetra me deu aquele carinhoso conselho: “se vc nao se cuidar nao conseguirá cuidar do seu bebe”.
Super verdade e carrego este conselho ate hoje.
As vezes nao eh somente com comida e atividades físicas mas saúde mental, eh se dar um tempo, eh se dar espaço porque todo nos precisamos disso.
As vezes algumas horas, ou minutos , longe do filho se resultam em outras horas, ou minutos, juntos com muito mais qualidade.
Apostei e deu certo !!!
Excelente POST
Beijos
Bia
Bia,
Obrigado, uma vez mais, por sua participação no blog. Seu depoimento, certamente, vai ajudar muitas mães a recuperarem suas vidas, sem abandonar seus filhos, sem sentir culpa. Pelo contrário, como você mesma disse (e viveu), momentos que a mãe tem para si, geram mais momentos junto com os filhos.
Dr Roberto,
Obrigada pelas dicas acredito que tudo que tenha relatado seja a mais pura verdade…hoje sou mae e ja nao tenho mais a minha mae ao meu lado por descuido dela nos deixou as seus 47 anos de idade muita falta nos faz, muita saudades nos traz.
Deus abencoe muito voce por sua dedicaçao, carinho pq quem se faz aparte dos seus comendatarios,sugestoes e dicas tera a chance de mudar muita coisa na rotina do dia a dia em tempo concreto. Na medida do possivel tento me lembrar daquilo que mas me fez falta qndo criança e ai que tento nao errar com minha filha mas tenho muito para aprender com grandes profissionais como vc.
Um forte abraco direto da Inglaterra sempre que posso estou lendo seu blog.
VANESSA
Prezada Vanessa,
Obrigado por participar e ler o blog. Seu depoimento é muito mais forte do que qualquer post escrito por um médico. Não tenho a menor dúvida de que poderá influenciar outras pessoas que o leiam. Quem tem filhos precisa pensar que a sua saúde pode significar mais tempo juntos!