MÃE OU MULHER?

Venus2Hoje celebramos o dia das Mães. É uma justa homenagem a quem nos carregou na barriga por nove meses e colocou no mundo. Colocou e cuidou. Colocou, cuidou e amou. Para os que vão celebrar o dia com as sua mães, o tempo certo dos verbos cuidar e amar, é o presente: colocou, cuida e ama. As homenagens chamam a atenção para esses aspectos, lindos e verdadeiros do  ser mãe.

Dos comerciais de banco aos de supermercado, as imagens representam essa dedicação, abnegação, doação, constantes que as mães, em geral, têm. É preciso reconhecer que, realmente, mães se desdobram e dedicam, de forma incansável. Não é à toa que, frequentemente, nos referimos às mães, como santas.  Acho mais do que razoável se homenagear as mães com a metáfora da santidade.

Mas, essa seria, na minha opinião, uma homenagem incompleta. Incompleta, perguntarão alguns leitores deste blog? O que pode ser mais do que uma santa? Uma mulher, respondo. O lugar da santa é um de contemplação, distanciamento, reverência. Uma santa é uma imagem imobilizada, “congelada” na sua santidade. Uma santa não pode fazer tudo. Dela se espera nada menos do que milagres. E, sem dúvida, mães fazem milagres, todos os dias. São os milagres do cotidiano, que se traduz por um dia com mais de 24h. Arrumam a casa, cozinham, esticam o orçamento da família, tiram remela de olho, trocam fraldas, tomam a lição da escola, fazem compras, abaixam a febre, limpam o vômito, correm para o médico, saem para trabalhar, fazem carinho no marido ou companheiro, ligam para suas próprias mães porque já se tornaram um pouco mãe das suas mães, catam piolho, se emocionam nas apresentações da escola, assistem novela enquanto dão de comer para os filhos, se preocupam com tudo e com nada, se sentem culpadas se chover e o filho de 20 anos saiu sem o guarda-chuva e ainda agradecem aos céus a graça de serem mães! Se isso não é milagre, não sei o que seria! Portanto, não discordo da santidade das mães.

Suspeito apenas,  que esse tipo de homenagem, incompleta, aos meus olhos e coração, tem um pequeno viés masculino, machista. Garantimos com essa homenagem e propaganda que a mulher tenha dupla  ou tripla jornada de trabalho, enquanto seguimos a vida, deixando, ocasionalmente, uma florzinha no altar da “santa”. Nada mais confortável para nós, homens. Mais do que isso, destituímos a mulher de ser aquilo que sempre foi, antes da maternidade:  uma mulher! Uma mulher é um ser humano, sem nenhuma santidade atrelada a ela. É um ser humano que tem seus desejos, necessidades, angústias, convicções, prazeres e ambições. É um ser vivo, móvel, energético, erotizado, quase o oposto da metáfora da santa!

Pois bem, toda mãe é uma mulher e a maternidade não substitui a existência feminina prévia. Apenas acrescenta mais um aspecto, este exclusivo delas, às suas vidas. Ao se tornar mãe, nenhuma mulher deveria abdicar de ser o que é, para se tornar uma figura idolatrada, mas sem vida própria. Hoje, gostaria de homenagear a todas as mulheres que também são mães (ou serão um dia). A pergunta do post de hoje, Mãe ou Mulher, deveria ser substituída por Mãe e Mulher! Só assim deixaremos de ver nossas mães como somente santas e poderemos ser, também, mais humanos.

A todas as mulheres-mães, meu abraço carinhoso.

4 comentários em “MÃE OU MULHER?”

  1. Oi Roberto, suas sabias palavras me emocionaram. Obrigada por definir tao bem a Mae e Mulher! Sabe? As vezes nos revoltamos pela carga de sermos mulher, mas nunca “por ser mae”rsrs…que realmente e u’a missao gratificante q mto nos dignifica! Um gde abraço.

    1. Dr. Roberto Cooper

      Maria José,
      Obrigado por participar do blog e me enviar uma mensagem tão gentil. Suspeito que, por razões conhecidas, você é mais condescendente e tolerante comigo do que seria em outras circunstâncias! Mas, é bom saber que gosta do que escrevo. Grande abraço.

  2. Lorelai Schneider

    Dr. Roberto: Quanta compreensão da condição feminina !! Puxa, muito bacana. E bom saber que isso significa que não podemos ser consideradas chatas pelos pediatras dos nossos filhos…
    Um grande abraço
    Lorelai Schneider

  3. Pingback: A MÃE SUFICIENTEMENTE BOA. | Dr Roberto Cooper

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