LENDO PARA BEBÊS.

bebê lendoUma das perguntas frequentes que pais fazem para pediatras é sobre como estimular seu bebê. Contida nesta pergunta está a preocupação natural de oferecer aos nossos filhos todos os meios para o seu pleno desenvolvimento. Todos nós desejamos que nossos filhos sejam adultos inteligentes e bem sucedidos. Para isso, deverão aprender muitas coisas, sendo que a mais importante é aprender a aprender. Como tudo evoluiu, avança, muda, as pessoas com a capacidade de incorporar novos conhecimentos, em princípio, terão maior possibilidade de realização pessoal e sucesso profissional. Assim, o assunto de como estimular os filhos faz todo sentido. O que nem sempre faz sentido, para os pais, é a resposta que costumo dar: leia para seu bebê! Não raro, me olham respeitosamente desconfiados, quando não decepcionados. Suponho que muitos esperavam uma resposta que envolvesse alguma tecnologia eletrônica, outros, algo menos comum e banal do que a leitura. Quem sabe expor o bebê às sonatas de Mozart?

O espanto, compreensível, advém do fato de que bebês não sabem ler. Parece completamente sem propósito ler para alguém que ainda não lê. Pergunto então por que falamos com nossos filhos, desde o momento do nascimento, se ainda não sabem falar? E cantamos cantigas, sem que saibam cantar? Falamos e cantamos porque temos vontade, é irresistível, instintivo e natural. Nunca passou pela cabeça de nenhum pai ou mãe ficarem mudos até que a criança comece a falar. Se ficássemos mudos, como aprenderiam a falar, cantar e se comunicar?

Falar é algo natural no ser humano. Já leitura é uma conquista da nossa evolução. Há cerca de aproximadamente 60 mil anos que o homem fala. Mas, a escrita e, consequentemente, a leitura, só têm aproximadamente 12 mil anos. Faz todo sentido que a fala, a narrativa verbal, tenha um força maior para nós, até os nossos dias. Nem todas as pessoas no planeta sabem ler, mas, todos sabemos contar uma história ou narrar um episódio. Ler é um processo adquirido e exige algum esforço adicional do que falar.

Ler é a base da transmissão do conhecimento estruturado. Se quisermos que nossos filhos aprendam a aprender, para que possam ser sujeitos do seu futuro, o hábito da leitura passa a ser determinante. Textos podem ter complexidades variáveis, desenvolvendo aptidões de análise e elaboração teórica que a fala, por si só, não é capaz de desenvolver. Textos e suas leituras são uma forma de prazer, que exige algum tempo para ser desenvolvida. Assim como comer tem algo de intuitivo e fácil (leite materno), evoluindo para gostos mais complexos que são aprendidos ao longo do tempo (se formos apresentados a estes sabores), assim é a leitura.

Espero que, se você leu até aqui, já esteja inclinada (o) a acreditar que ler é algo interessante para seus filhos. Mas, por que ler para um bebê? O primeiro motivo é o mesmo que usamos para falar para um bebê. Se esperamos que aprenda a falar, é preciso que falemos para nossos bebês. Se queremos que se tornem leitores, é preciso desenvolver nos bebês o gosto e prazer pela leitura, antes que seja uma obrigação escolar. Do que um bebê mais gosta? Do contato físico com seus pais e do som das suas vozes. Ler no colo dos pais irá produzir uma agradável associação entre o ato da leitura e o calor, carinho e voz dos pais. Ler estará associado a momentos de prazer e não de obrigação escolar.

O segundo motivo é porque a leitura, de fato, estimula  a inteligência dos bebês. Se fixar em cores, ouvir ruídos, gradativamente reconhecer as coisas que estão nos livros como também  fazendo parte das suas vidas, são poderosos estímulos que exigem a participação dos bebês. A leitura é um processo interativo, nunca passivo e isto é muito importante para o desenvolvimento das capacidade intelectuais da criança. Mesmo os bebês de 6 meses terão alguma interação com os livros. Batem nas páginas, mordem ou chupam os cantos (melhor livros de plástico!), arrancam das mãos dos pais, nunca ficando completamente passivos.

À medida que o bebê vai crescendo, sua capacidade de fixar a atenção aumenta (não é preciso terminar histórias, quando a criança se desinteressar, parem a leitura), começa a repetir sons, identificar objetos (mostre o objeto no livro e mostre na casa, se houver). Quando crescem um pouco mais, frequentemente preferem repetir o que já conhecem do que ler algo novo. Não raro trazem o livro para os pais lerem. Não é preciso ler uma história nova cada vez. A mesma história, repetidas vezes, produz o prazer da antecipação que é simplesmente delicioso.

Ler para os bebês e crianças, desenvolve a concentração, memória e capacidade de ouvir. Estas aptidões são importantes, pela vida afora e se não forem desenvolvidas cedo ou, no seu lugar, oferecermos apenas os estímulos rápidos e superficiais de jogos “hiperestimulantes”, corremos o risco dos nosso filhos não conseguirem se concentrar e fixar em questões mais profundas e complexas, que levam a uma compreensão mais abrangente da profissão e, mais importante, da vida e o estar no mundo. reading_baby

Guardo para o final do post, o motivo definitivo para que leiamos para nossos filhos, desde bebês e a infância afora. Com a nossa vida agitada,
ocupada, eficiente e produtiva, qual o valor de 10 minutos de contato físico  e compartilhamento de prazer com nossos filhos? Qual o valor de 10 minutos onde deixamos de ser qualquer outra coisa e podemos ser mães e pais, por inteiro? Qual o valor de perceber nossos bebês crescendo, desenvolvendo aptidões novas que geram comentários e perguntas fascinantes? O motivo para lermos para nossos bebês é porque é muito gostoso para nós, adultos.

 

6 comentários em “LENDO PARA BEBÊS.”

  1. Muito bom Dr. Cooper, desenvolver o gosto pela leitura faz toda a diferença para criarmos um adulto completo. Leitura ja pras netinhas.

    1. Dr. Roberto Cooper

      Prezada Laura,
      Não tenho a menor dúvida de que a Olivia será uma boa leitora. Com o seu exemplo e a dedicação dos seus pais, certamente seu gosto por livros vai se desenvolver com muito prazer. Obrigado por voltar ao blog.

  2. Lorelai Schneider

    Dr. Roberto:
    Vou dar meu depoimento: desde três meses de idade do Henrique a gente lia para ele.
    Eu tinha tomado conhecimento deste assunto através do livro “A Ciência dos Bebês” do John Medina, um biólogo americano. Eu adoro ler e o Gabriel também. E desde muito cedo percebemos que ler para o Henrique fazia com que ele ficasse bem calminho. Fazia mesmo. E depois que o Henrique se tornou seu paciente, você comentou sobre este assunto conosco.
    Coincidência ou não, o Henrique se tornou um adorador de livros. Toda noite temos que ler vários livros pra ele, antes de dormir. Ele pede e chora se a gente não ler. Aliás, muitas vezes ele já acorda pedindo livro. Mas de manhã tenho que dizer “não” para ele ir para a escola.
    O fato é que, hoje, o Henrique é um “leitor” contumaz. Agora, aos dois anos e meio, ele muitas vezes abre o livro sozinho e começa a contar a história (ele memoriza porque afinal de contas ele já ouviu cada livro muuuuuitas vezes).
    Pode ser coincidência ele gostar de livros, mas o mais provável é que o caso do Henrique seja a comprovação desta teoria.
    Acontecia igualzinho você descreveu: quando muito bebê ele mordia os livros (rsrsrs) e tenho certeza que uma das coisas que ele sempre curtiu nesta leitura que fazemos pra ele é o calor e o afeto do colo dos pais.
    Abraços
    Lorelai

    1. Dr. Roberto Cooper

      Lorelai,
      Muito obrigado pelo seu depoimento. Tem muito mais valor do que a palavra de um pediatra. Ouvir de pais que fazem da leitura um hábito, desde bebê, o resultado que percebem, é muito bom para que outros pais se animem e comecem ou continuem a ler para seus filhos.

  3. Dr. Cooper parabéns por seu blog e entrevista no Roberto D’Ávila…sou mãe de primeira viagem e estou adorando suas considerações. Moro em Brasília e vou com frequência ao Rio. Gostaria de conhecer seu consultório um dia…caso possa compartilhar o contato eu adoraria. Sou mãe do Henrique – um lindo bebê de 6 meses – para o qual leio com frequência. De fato seu blog tem me ajudado…que bom que o descobri. Li sobre o humor e o cansaço…é uma fase muito ambígua e foi interessante a abordagem…ajuda a aliviar e a perceber que todos sentem mais ou menos a mesma coisa…o amor vem acompanhado de muitas mudanças e desafios…Enfim um pediatra com visão global do contexto familiar e globalizada (porque não) sempre faz diferença no mundo. Obrigada.

    1. Dr. Roberto Cooper

      Prezada Fernanda,
      Obrigado por sua mensagem gentil. Fico feliz e motivado quando o que eu escrevo faz sentido para outra pessoa. Sugiro que tenha um pediatra em quem confie, em Brasilia. É importante tem uma referência e não várias. Mudar de pediatra ou só fazer consultas na emergência, acabam confundindo mais do que ajudando. Claro que, vindo ao Rio, terei muito prazer em conhecer você e o Henrique.

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