POR QUÊ LIMITES SÃO IMPORTANTES?

limites

Por onde se leia ou ouça algo a respeito de crianças, vai surgir a afirmação de que limites são importantes para as crianças. Aqui mesmo no blog eu já fiz esse comentário, sob diversas formas, várias vezes. Me ocorreu que essa afirmação pode ser algo que repetimos, sem realmente pararmos para pensar no que possa significar e qual a razão para se afirmar que limites são importantes. De forma mais prática, vou tentar responder à pergunta deste post. Para quem me conhece e sabe da brincadeira que faço a respeito de escrever um livro que tivesse um número na capa (As 7 regras da alimentação infantil; As 11 lições do Himalaia para a felicidade das crianças; As 9 formas de colocar o seu bebê para dormir; Domine as 3 técnicas infalíveis para a amamentar etc.), este post quase se chamou As 5 razões pelas quais limites são importantes! Vamos a elas.

1- LIMITES OFERECEM SEGURANÇA E PREVINEM ACIDENTES:

  • não pode ficar na janela
  • sai de perto do fogão
  • tira a mão da tomada
  • solta a faca agora
  • coloca o capacete ou não vai andar de bicicleta
  • segura com as duas mãos
  • desce daí já
  • coloca a boia

A lista de “comandos” poderia continuar. Mas, me parece que são autoexplicativos de como limites são importantes para garantir a segurança e prevenir acidentes. Este é um tipo de limite que os pais nunca têm dificuldade em impor, sem nenhuma negociação ou, dependendo da situação, conversa explicativa. A urgência impõe que o limite seja dado de forma rápida e enérgica, sem rodeios e, óbvio, sem a menor culpa por parte dos pais. Voltarei a esta situação quando falar de outros limites.

2- LIMITES PROMOVEM A SAÚDE:

  • coma um pouco dos legumes
  • hoje a sobremesa é fruta
  • não coma mais biscoitos
  • escovou os dentes?
  • vamos passar o protetor solar
  • coloque o chapéu
  • está na hora de dormir
  • chega de brincar com o celular
  • dói um pouco, mas, precisa tomar (vacina)

Novamente, a lista poderia ser mais longa e fica claro que todos os limites descritos acima têm relação com a saúde. Seja para produzir um benefício imediato, seja para prevenir doenças no longo prazo. Estes limites, diferente daqueles relacionados com a segurança da criança, nem sempre são implementados da mesma forma. Claro que nas questões de segurança não existe negociação e nas de saúde pode (e deve) haver uma conversa, explicação etc. Mas, o objetivo deste post é dar aos pais uma explicação de por que limites são importantes.  Neste tópico, mostrei que limites têm ou podem ter impacto direto na saúde dos filhos. A pergunta então poderia ser: se você pudesse fazer algo para tentar evitar que seu filho ou filha infartasse ou tivesse um derrame aos 50 anos, você faria? Se e resposta for sim, já entendeu porque limites relacionados à saúde são importantes e merecem o trabalho que dá para implanta-los.

3- LIMITES CONTRIBUEM PARA DESENVOLVER UMA PERSONALIDADE AJUSTADA:

  • levanta do chão, assim você não vai conseguir nada
  • estou aqui perto, pode ir dormir
  • chorando eu não te entendo, fala sem chorar
  • não vou dar na sua boca, você já sabe comer
  • é o que temos em casa
  • senta para fazer o dever de casa
  • não vai jantar no quarto vendo TV, vem sentar à mesa com seus pais

Crianças são economistas ortodoxos intuitivos. Tendem a buscar otimizar os benefícios, minimizando os custos. Como o seu horizonte de tempo é o presente, sua lógica é a do benefício e custo instantâneos. Não há consequência futura, nunca. Depois, é uma palavra sem o menor sentido para uma criança. Diga para ela comer um doce, depois. Ou, guardar o brinquedo para depois. Cabe a nós, adultos, modular esse imediatismo via limites. É através dos limites que vamos oferecer aos nossos filhos a oportunidade de se defrontarem e resolverem a frustração que estes geram. Se não houver o limite, não haverá a frustração e, sem esta, é impossível que uma criança desenvolva os meios de se autoconsolar e desenvolver os mecanismos que a permitirão conviver com as limitações que o dia a dia nos impõe, sem permanecer em um estado de irritação ou agressividade permanente. Nesse sentido, limites contribuem para o desenvolvimento de uma personalidade ajustada.

 

4-LIMITES PROMOVEM A CIDADANIA:

  • não jogue o lixo na rua, jogue na lixeira
  • não pode morder seus pais ou coleguinhas
  • não pode pegar a borracha do colega
  • se pegar esse biscoito, temos que pagar
  • o caixa deu mais  troco do que devia, vai lá e devolve
  • espera o sinal verde para atravessar a rua
  • agradece o presente que recebeu
  • a fila começa aqui, temos que esperar
  • se apresse, temos hora e não podemos atrasar

Viver e coletividade, de forma cidadã, nos impõe limites. São as regras do convívio social, incluindo nossas leis. Não podemos fazer o que quisermos, quando quisermos, do jeito que acharmos melhor. Em geral, sabemos reclamar quando alguém tem uma atitude menos respeitosa com os demais (fura uma fila, joga lixo no chão, estaciona em fila dupla, anda pelo acostamento de estrada com engarrafamento etc.), mas, costumamos ser tolerantes quando “precisamos” fazer uma destas coisas!  Não raro, afirmamos que o Brasil ou os brasileiros são assim mesmo, num misto de desolação pela realidade geral e justificativa para o comportamento individual. Mas, se de algum modo, desejamos que nossos filhos vivam em um país diferente, é preciso que eles aprendam a ser diferentes e isso se consegue, em parte, com limites e, muito, com exemplos. Temos aqui mais uma razão ou motivo pelo qual limites são importantes e necessários.

5- IMPOR LIMITES É UM ATO DE AMOR

Se eu fosse realmente ousado ou corajoso, este post teria apenas a frase acima! Mas, em um mundo onde precisamos de evidências tangíveis, achei melhor descrever as 4 razões objetivas, antes de chegar nesta.

Ao impor limites à criança, esta, habitualmente, reage de forma enérgica. O limite é um obstáculo real à realização de um desejo ou vontade e, nesse sentido, a reação da criança faz todo sentido. Cabe aos pais não se deixar sensibilizar ou, pior, se culpabilizar por esta reação. Aqui, volto com os exemplos dos limites que garantem a segurança dos nossos filhos. Alguém se sentirá culpado por puxar uma criança sentada na janela que começa a chorar e dizer “mas eu quero sentar lá, você é feia”? A criança poderá fazer o escândalo que quiser, dizer as atrocidades que desejar que os pais permanecerão absolutamente tranquilos e seguros com a decisão tomada e a ação enérgica que empreenderam. Guardadas as devidas proporções e adaptando às demais situações, os pais nunca deveriam se sentir culpados por impor limites cujo objetivo é o bem estar da criança, seja imediato (segurança), seja futuro (saúde, ajuste emocional, cidadania). Se o objetivo é o bem, esses limites, esses “nãos”, são um ato de amor. Para nós, entender que um não seja um ato de amor, nem sempre é fácil. Por isso eu uso a comparação (exagerada), com a criança sentada na janela do oitavo andar, balançando as perninhas para fora. Assim, para que se consiga impor limites aos filhos, é importante compreender que existe uma razão (buscar alguma forma de bem) e uma emoção (amor) envolvidas. Uma vez plenamente embebidos destes dois vetores que justificam os limites impostos, os pais poderão enfrentar, com mais tranquilidade, a reação que sempre vai ocorrer, até a adolescência (fase onde limites são fundamentais, pelos motivos expostos acima, de forma ainda mais dramática no que diz respeito à segurança e saúde).

Mas, além desta reação contrária, enérgica, crianças e adolescentes adoram limites! Ele escreveu adoram? Deixa eu ler de novo. Sim, ele escreveu adoram! Explico. Além dos objetivos lógicos pelos quais impomos limites (tópicos acima), estes (limites) dão à criança e ao adolescente a certeza (inconsciente) de que alguém cuida, se preocupa, olha, tem cuidados, com eles. O limite é como um abraço amoroso bem apertado. Ao mesmo tempo em que estamos contidos fisicamente pelo abraço, nos sentimos envolvidos por afeto e a sensação é prazerosa. O limite funciona como esse abraço, em um nível que as crianças não acessam, mas sentem. Se tem alguém que vai colocar limites, posso explorar o mundo sem medo porque, se houver alguma ameaça, o limite vai surgir. Essa frase, seria o inconsciente dos nossos filhos falando, se pudéssemos ouvi-lo. Por isso que, curiosamente, crianças que reagem de forma exagerada aos limites, podem estar pedindo mais! Sentem que o abraço está frouxo e, sem saber direito de onde vem aquele mal estar, se queixam do (pouco) limite como se fosse muito. Claro que isto não é uma regra, muito menos uma receita de bolo, mas, uma sugestão de reflexão para os pais.

Finalmente, uma recomendação e uma exceção. A recomendação é que escolham os “nãos” relevantes. Se tudo for não, ou se banaliza o limite e ele perde a função ou se massacra a criança, inibindo sua criatividade e, ao invés de reforçar sua autoestima, acabamos por reduzi-la.

A exceção são os bebês pequenos. Para estes, nem pensar em impor limites. Estes precisam, para que o seu pleno desenvolvimento físico e psíquico, que nos primeiros meses de vida, seus “desejos” sejam todos acolhidos. Bebês devem mamar quando quiserem, dormir quando conseguirem, ser pegos no colo o tempo que isso lhes der calma e prazer. Sem limites. Depois, a história muda e os pais de bebês pequenos que leram até aqui podem reler o blog quando seus filhos estiverem um pouco maiores!

Independentemente da idade, do recém-nascido ao adolescente, ou diria até filhos adultos e casados, mudam as razões pelas quais fazemos isso ou aquilo para e com nossos filhos. O que nunca muda é o afeto, o amor.

 

15 comentários em “POR QUÊ LIMITES SÃO IMPORTANTES?”

    1. dr tenho afilhada com Síndrome de Downhj com23 reclama de dor na barriga ja fez todo tipo de exame…e naõ consta nada mae agredita e dor,naõ tem febre,pode ser manha,e mae fala muito e dor,mas se tivesse poblema os medico achava,to pensando e picicologico da mãe passa pra filha,que proficional devo procurar ,estou preoculpada ela grita se joga no chão!!

      1. Dr. Roberto Cooper

        Prezada Cida,
        O ideal é que encontrem um pediatra em quem confiem e que possa acompanhar sua afilhada para entender o que se passa com ela e o contexto familiar.

  1. Gosto do jeito divertido que o senhor descreve situações cotidianas nada divertidas ☺️ Tenho só uma perguntinha para você: é possível sequelas de chikungunya durarem 2 anos? Mais uma vez, parabéns por ser essa pessoa maravilhosa que és 🙂 Continue assim! Ah, e gostaria de saber se é possível uma pessoa ficar 2 anos c sequela d chikungunya…. Namastê e fique com Deus 🙏🏼🌺

    1. Dr. Roberto Cooper

      Prezada Rosita,
      Sabemos pouco sobe essas “novas viroses”. Mas,não é esperado nem está descrito que os sintomas perdurem por 2 anos.

        1. Dr. Roberto Cooper

          Rosita,
          Porque, no Brasil, o vírus começou a circular há pouco tempo e, no mundo, estava limitado a populações pequenas. Mas, o vírus é conhecido há muito tempo, pela comunidade científica.

  2. Você poderia dizer alguns países nos quais a febre chikungunya já é velha conhecida? E porque a doença tem esse nome tão estranho (ao menos para mim)?

    1. Dr. Roberto Cooper

      Rosita,
      Infelizmente não consigo lhe responder a todas as perguntas, porque só eu respondo ao blog e tento me manter dentro dos assuntos tratados ou relacionados à pediatria. Sua curiosidade é elogiável, mas, sugiro que busque essas informações de caráter mais geral em sites de instituições ou faça uma busca no Google, escolhendo sempre boas fontes para consultar. Espero que compreenda esta limitação deste blog.

  3. Bom dia,tenho uma aluna de 4 anos que gosta de fazer pirraça e parte pra cima para bater e ainda gosta de destruir tudo que ver pela frente com cara de chacota,ela não se intimida com nada

    1. Dr. Roberto Cooper

      Prezada Ana,
      Opinar sobre uma criança que eu não conheço seria irresponsabilidade minha. De um modo geral, o comportamento de uma criança de 4 anos, salvo algum distúrbio neuro-psiquiátrico, reflete ou expressa o contexto familiar. Não é recomendável olharmos para a crianças, em avaliarmos ou incluirmos o seu entorno. Não raro, a criança é apenas um sinalizador de algo que se passa na casa ou família. Minha sugestão é que os pais fossem convidados para uma conversa de entendimento e não de cobrança imediata. A escola ajudará muito mais esta família se puder contribuir para que o diagnóstico da situação seja feito, ao invés de simplesmente exigir que “façam algo”. Sucesso!

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